UX Writing: Gramática descritiva, normativa e internalizada

Neste artigo você vai ver:

Gramática descritiva, normativa e internalizada. O que UX Writing tem a ver com isso?

A gramática descritiva, como o próprio nome diz, descreve como uma língua funciona, como ela é falada na prática. Ela é o alcorão dos linguistas. Aqui, é importante ressaltar que houve um tempo recente em que algumas empresas denominavam como linguistas o que a gente conhece hoje por UX Writer. Isso é totalmente equivocado!

Linguistas são profissionais que estudam a linguagem de forma científica em diferentes contextos sociais. O trabalho dos linguistas pode e deve ser uma importante referência para o nosso trabalho enquanto UX Writers, mas esses são campos de atuação muito diferentes. Jamais se apresente como linguista se você for exclusivamente UX Writer. #ficaadica, pessoal!

Gramática descritiva x Gramática internalizada

As gramáticas descritivas surgiram devido à limitação da gramática normativa em descrever a vida real de um idioma. As pessoas definitivamente não falam no dia a dia como a norma culta estipula. Uma vez que nós, UX Writers, também estamos inseridos na sociedade, também falamos esse Português do dia a dia e também somos usuários de diversos aplicativos e interfaces digitais, muito do nosso trabalho acaba sendo feito intuitivamente. E qual é a base desse trabalho intuitivo? É a chamada gramática internalizada, também chamada de gramática implícita.

A gramática internalizada ou implícita é o conjunto de regras que cada pessoa domina e que permite que ela se comunique e também compreenda os outros. Digamos que ela é um mix mental das gramáticas normativa e descritiva em diferentes níveis para cada indivíduo.

Essa gramática internalizada é formada ao longo da vida, de acordo com o repertório linguístico que a pessoa vai tecendo. Isso inclui a convivência familiar e social, as oportunidades de ensino formal que essa pessoa teve, todos os tipos de entretenimento que ela já consumiu, os livros que já leu, o campo semântico da profissão na qual atua, a região geográfica onde morou, a idade cognitiva… Enfim, são fatores infinitos! E essa gramática internalizada está sempre em construção enquanto a pessoa viver.

O pedestal da norma culta

Quando a gente fala de gramática internalizada, a gente esbarra numa questão muito sensível, que é o preconceito lingüístico, do qual pessoas que vivem de forma periférica socialmente são as principais vítimas. O fato é que linguagem e comunicação são intrínsecas a questões ideológicas. Não dá para separar as duas coisas: comunicação e ideologia.

Nesse sentido, há uma idealização da norma culta, isto é, da gramática normativa, com o intuito de subjugar e diminuir pessoas que têm uma gramática internalizada mais vulgar. Isso não faz sentido algum, uma vez que pessoas com gramática internalizada de alto nível podem falar de uma maneira muito coloquial por um simples traço de personalidade. Além disso, regionalismos são absolutamente legítimos e essenciais na formação da identidade cultural.

Mas por que estou falando tudo isso? O que eu quero deixar claro é que nós, UX Writers, temos a obrigação técnica e moral de ter uma gramática internalizada extremamente rica. Isso não nos torna melhores do que ninguém como pessoas, mas é basicamente o que nos legitima a trabalhar como UX Writers e a sermos remunerados para essa atividade. 

Como UX Writers, nós precisamos garantir que a nossa gramática internalizada seja um resultado equilibrado de referências culturais, sociais e acadêmicas. Essas referências não podem ser unilaterais. Quanto mais diversificadas, melhor!

Nós precisamos ter a capacidade de compreender e “manusear” a linguagem para audiências com diferentes posicionamentos políticos e culturais, públicos com necessidades e vivências totalmente sortidas.

Aprofundar-se e adaptar-se

Não podemos ter a pretensão de atuar como UX Writers com uma gramática internalizada no mesmo nível que a maioria das pessoas. Precisamos ter um domínio técnico excepcional da gramática normativa e da gramática descritiva, igualmente.

Em tempo, indico a leitura da Gramática descritiva do português brasileiro, de autoria do Mário A. Perini. Ter uma gramática descritiva como referência é muito válido, na minha opinião. Porém, precisamos ser realistas: ela não é uma panaceia que resolve todas as nossas necessidades com públicos de diferentes contextos. Além disso, consequentemente, possuem padrões de linguagem muito diversos.

Eu, por exemplo, trabalho num projeto dedicado a caminhoneiros da região Norte e Centro-Oeste. Ter uma gramática descritiva como essa do Perini à mão não me isenta da necessidade de mergulhar no universo dos meus usuários e conhecê-los com profundidade para desvendar a maneira como os caminhoneiros se expressam e como interpretam a linguagem.

Porém, ter tido contato com uma ou mais gramáticas descritivas e ter dedicado um tempo precioso para ler e analisar o olhar de um linguista desse calibre tornam o meu olhar mais sofisticado. Quando eu faço uma imersão de campo, eu tenho uma percepção muito mais detalhista e profissionalizada, por exemplo, a respeito das manifestações verbais do meu público — justamente por ter o trabalho de alguém como o Mário A. Perini como referência.

É claro que existem muitos outros linguistas extremamente gabaritados. Então, escolha suas referências para se tornar um UX Writer cada vez mais capacitado tecnicamente!

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UX Writer
Quando não está escrevendo para interfaces digitais e chatbots, está cozinhando ou comendo.

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